Toda alma que em bruma se cala
traz o perfume antigo do que não veio.
És neblina que beija a face da alvorada,
sem jamais tocar o chão por inteiro.
Teu enigma dança no contorno da ausência,
és o abrigo secreto do que ninguém vê.
És lamento de luar em voz suspensa,
és palavra que se nega a nascer...
E mesmo assim... estou aqui - te escuto!
Mesmo assim... de longe te espio - te vejo!
Na dobra do tempo, onde o pranto é mudo,
teu sussurro que é grito me faz cortejo.
Se o corpo se esconde e abraço não vem,
que o sussurro da alma venha em verso.
Pois há poesia - de dentro - que não precisa
ser materializada, tocada - para ser universo.