Costuro a dor com fios de agonia,
E a solidão me serve de tear.
Não peço alívio à noite ou à poesia —
Só quero o verbo aceso a palpitar.
Meus versos sangram luz na travessia,
Com olhos tristes tento repousar
Em cada ruga antiga que se cria
No tempo que insiste em me rasgar.
Minha agulha é ausência que perfura,
Mas com ela bordando, sigo inteira,
Tecido vivo feito de ternura.
Se espinho fere a mão da costureira,
É que sua alma, em chama tão impura,
Faz do sofrer sua mais clara bandeira.