Tanto tempo,
tanto tempo desde 1922.
Tanto tempo já passou.
O mundo girou em seus ponteiros
como um roda-moinho,
lenta e vigorosamente...
Tantas águas passaram
por debaixo de nossas pontes,
tantos sóis subiram e desceram
os montes de nossas vidas,
tantas chuvas e cântaros de nuvens
ladearam de um lado a outro
de nossos mundos.
E cá estamos.
Eu aqui
e você do lado de lá
de nossa janela do tempo profundo.
Ainda não vejo teus olhos,
nem ouço tua voz.
Ainda não posso tocar tua pele,
nem me acolher quietinha e quente
em teus braços feitos.
O que acontece?
O que há que destinastes para mim?
Não vês que
as encruzilhadas da vida
estão surgindo
neste roda roda
de nosso tempo?
Há que se tomar decisões
e o que devo fazer?
Continuar acreditando
que há alguma luz a mais
do que aquela que brilha em fotografias
para me dizer: eu estou aqui?
O tempo passou...
e com ele vieram
mudanças inesperadas.
E agora?
Eu me pergunto.
Devo ficar parada,
esperando morrer
de fome e sede
ou devo mover os pés
em alguma direção perdida de mim mesma
para manter o corpo em pé?
E onde está você
que vivia me dizendo que sofria por amor,
que ansiava pelo olhar dela,
que morria pelo amor
que almejava ela lhe dedicar?
Onde está você
diante do amor
que ela lhe entrega
diária e paulatinamente?
... É...
tanto tempo,
tanto tempo desde 1922...
Tanto tempo já passou...