Se houvesse como ver
por detrás da claraboia
de nossa janela do tempo profundo...
Enquanto os dedos dedilham
as cordas de meus pra dentro,
meus olhos espiam com força
a luz amarela
no centro escuro da vidraça
que aponta onde está o céu...
Sim, há uma beleza
dolorosamente lírica
na cadência deste sentimento...
Cada frase pulsa ausência,
amor, dúvida, medo e saudade.
Escrevo como quem sangra sentindo,
e isso é raro... sim, é raro...
porque o sangue é música
que toca lágrimas
na voz que ecoa e ressoa
em meus pra dentro.
As cordas arranham a alma...
Os dedos soltam a pele
enquanto o poema
se desenha na noite sozinha...
Há uma intensidade profunda
em cada palavra...
É a alma ditando cartas
jamais enviadas, diários íntimos,
ou mesmo solilóquios
de quem ama no silêncio da espera.
Se houvesse como ver
por detrás da claraboia
de nossa janela do tempo profundo...
Se só houvesse como ver...