Maria
Prosa e Poesia
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Textos

Estão juntas num mesmo quadro, alinhados,

mas ainda equidistantes no sentido de que ela,

sozinha, de seu lado da porta,

espia o mundo e tenta entender o teatro da vida.

 

Ele, ainda, é vários ao mesmo tempo.

Metódico, contabiliza suas falas de multidão,

mas se expressa mesmo pelo silêncio.

É o silêncio que hoje fala.

O silêncio é o seu Eu profundo que fala calado.

 

Ela canta só pra ele e não mede palavras

e nem tempo para seu amor entregar.

Ele, fala por liras sendo que

cada cor representa uma margarida.

 

Ela, continua falando muito e, ainda,

não conseguiu expressar o todo de sua alma,

seu coração, seu corpo.

Ela ainda guarda um ramo verde

em meio ao seu véu branco-dourado.

 

Ele, continua carregando vários sóis dentro dele.

Um para guardar na memória de um tempo longínquo.

Outro que lhe deu alimento quando voava

perdido à procura de si mesmo.

E um terceiro que é seu espelho

e do qual, sinto, ele ainda tem medo.

 

Talvez porque seja tão igual a ele,

embora vista outras cores.

Não tem o glaumor de suas pétalas de ouro.

Espia, tímida, pela fresta da porta,

entando entregar-se inteira,

ramo, folha, flor, pétula e corola...

 

Ele, ainda olha as borboletas no ar

e não larga da multidão

que o encanta e faz vibrar.

 

Ela, se inclina em sua direção,

tentando fazer com que seu perfume,

seu cheiro, cheguem até ele.

 

Assim, de perto, a gente percebe que,

em primeiro plano, ainda há uma porta entre eles.

Com ferros grudados, separando-os.

Ela, esmaecida, não sabe não sabe mais o que fazer,

o que dizer para que seu girassol se saiba

e se sinta amado e adorado incondicionalmente.

Só quer entregar seu amor.

Amor que ele, incessantemente,

sozinho ou com sua multidão de parceiras

busca pelas galáxias e constelações.

 

Ele ainda se esconde dela na escuridão.

Não percebe ou não quer ver o céu azul

que o rodeia e estende mãos de acalanto em sua direção.

Talvez ele precise mais tempo para compreender

que não é ele que decide se ela vai amá-lo ou não,

se ela quer ficar ou não. É ela.

E ela já fez sua escolha por si mesma.

Agora ele tem de perder o medo e decidir por si,

porque isso, ela não pode fazer.

Só ele pode fazer suas escolhas.

Quando isso acontecer, a porta que os liga

e é a ponte que vai levar um ao outro está ali.

É só aceitar a si mesmo que a compreensão

de que o que tanto se procurou já se encontrou chega.

 

Estão na mesma linha de um céu que os conecta.

Mas é preciso sair de si mesmo

e entrar definitivamente no outro.

Ele já está em mim e eu nele.

Mas ele ainda está agarrado a multidão.

 

Talvez hoje a liberdade se complete.

E os dois, libertos de si mesmos

e do mundo ao redor,

possam se amar 

pela primeira vez sem ferros,

sem amarras, enlaçados

numa mesma aurora boreal.

 

 

Maria
Enviado por Maria em 12/10/2022
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