Adeuses existem todos os dias.
Nos despedimos do dia, da noite,
do momento de agora e do seguinte,
das horas que rápido correm para outro tempo.
Se há pó, há vida, há sentinelas de sombras
ombreando as pedras que vão, lentamente,
se desgastando, mas não deixam de ser pedras,
seja em pó ou em bruta cor.
Somos ardósia da vida e podemos viver
no tempo de pedra sobre pedra
- uma construção de amor -.
Só procura a verdade quem sabe que ela existe
e quem a conhece como a verdade de tudo.
Ela está numa moldura que procuramos
quando a hora dos poucos chega
ou quando nos perdemos em saudades
e nos sentimentos esvaídos de vida.
Ela está no pôr-do-sol que podemos tocar
com nossos olhos, na vida, amarroada.
A verdade está nas lembranças e memórias,
na ordenança das pedras, do pensamento.
A verdade, meu amor, está lá onde toca a música
que faz a dança de dois, naquela pedra, amarrotada,
mas que mãos de violino a fazem afeiçoada
e a colocam, pra sempre de si esquecida,
no interior da montanha
onde só lá ela consegue sobreviver.
E, onde, ardósia e vida,
atiça e afogueada,
faz de seu homem
um eterno guerreiro
de fagulhas e vulcões,
criador de molduras na pedra,
fazendo-se pedra e cinzel...
moldando a pedra em si mesmo,
no magma de ardósia azul-afogueada,
na vitrine de nosso amor...