Pássaro ferido pela própria flecha
que no peito foi cravar,
poeta, se nunca te disse agora vou falar:
A tua dor era a minha, as feridas
das batalhas perdidas também.
Por isso me reconheci em ti,
e um pouco de alento quis lhe dar,
mas és um poeta teimoso
e de acarícios e amor não quis aceitar.
Eu me vi em ti, no teu, do mundo, o olhar.
E desejei profunda e ardentemente estar lá.
Queria voar, asas planantes, pra na casa
dos poetas morar....
Ergui asas e, de fato voei. Me entreguei
de olhos fechados ao vento alício - no ar
Caí numa armadilha, que uma aranha,
de jeito maneiro me fez.
Fiquei presa, emaranhada, mas,
mesmo colibri assustada escolhi ficar,
me adonei da aranha, do gato no telhado,
da flor dourada no quintal.
Afinal, dona me fiz da casa toda,
e lutei, feroz e bravamente,
para no colo de um pássaro de amor,
qual gatinha dengosa, pra sempre me aninhar,
espiava a porta entreaberta, via os gatos,
as folhagens e o banco de vime. Entrei!
Fui logo arrumando o espaço,
com mãos de fada madrinha,
palavras doces e carinho, numa
daquelas flores da varanda, fiz meu ninho.
Hoje sei que me enrolei nos fios
que aquela aranha fez,
e por uma montanha de amor quis ficar.
Sonhei fazer lá minha morada,
fazer daquele território o meu chão.
Porém não contava que um dia seria considerada
ave de mau agouro, e convidada (expulsa) a sair.
Por essa eu não esperava, que triste o meu Fim.
E assim é que, hoje, conto essa história
pra todos saberem que tudo, enfim -
que ao outro e ao mundo fazemos
um dia colhemos as consequências.
Então essa é a história:
na dor do poeta me enrolei
e nunca mais fui a mesma,
porque um dia - se triste ou feliz - não sei,
qual lagarta que vira borboleta,
em pobre mulher das letras,
em poetisa me transformei.