Viver Só
E meu coração abre
o baú de palavras
e tira lá do fundo
todas aquelas
que dizem
sobre o amor.
O amor que ama,
que acolhe,
que ampara, consola,
abraça e faz sorrir
com vontade de viver.
Mas a razão cava fundo
a realidade
e arranca dela o silêncio,
as lágrimas, as sombras,
o frio, o inverno rigoroso
- que parece ainda
se fazer presente -,
e me joga na cara,
me grita no vento,
me lança diante
dos olhos do coração.
Lembro de ter ouvido,
há muito tempo atrás,
alguém falar:
- Orgulhe-se de ter
conseguido me levantar,
e sabes como foi difícil isso !
Coisa linda de se dizer.
Coisa preciosa de se ouvir.
Palavras perdidas no tempo,
jogadas no vento?
Quem foi que as disse?
Para quem? Por que?
Perguntas. Perguntas
e mais perguntas
sem respostas.
Hoje acho,
- essas, isso -,
ficou tudo no passado,
pois o que vejo, o que ouço,
o mundo que consigo apalpar
ao meu redor
me fala de pessoas
que não querem saber de
se levantar, de viver,
muito menos saber de amar.
O tempo de hoje
não me conta de alguém
que se levantou,
mas de alguém que faz de tudo,
que usa todas as suas forças
para viver nas sombras, no vazio,
na escuridão, na tristeza, na solidão.
E lembro de outras palavras
- Não adianta me consolar -
e penso:
- Meu Deus, como pode existir
alguém que não queira consolo?
Como pode que alguém queira viver assim?
Só?
Como pode que alguém se sinta mal
e se afasta porque o outro lhe ama?
Porque o outro lhe grita
com todas as forças que se importa?
Como pode? Como pode?
Mas essa é a realidade de vida
ao meu redor.
Um quadro desanimador.
E diante de tudo isso,
e de tantas perguntas,
só me resta...
Chorar também!
Deixar também minha vida
se envolver por essa neblina,
por essas sombras... e chorar...
Como se o mundo fosse só,
um mar de lágrimas.
Maria
Enviado por Maria em 15/06/2008